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“- Ciclope, perguntas-me o meu nome. É muito conhecido. Mas já que o ignoras, vou-to ensinar, e terás depois de me entregar o presente prometido. Chamo-me NINGUÉM; meu pai e minha mãe chamavam-me assim, e todos os meus companheiros me chamam NINGUÉM.
_ Ah! Sim, respondeu o ciclope. Pois já que te chamas NINGUÉM, NINGUÉM será o último de vocês todos que eu devorarei. É esse o meu presente!
Ao acabar de dizer estas palavras, tombou para o lado, a cabeça dobrada sobre o ombro, ébrio de todo. Um sono profundo e toma, e ressona estrondosamente. Não perco um minuto – vou buscar a estaca preparada, aqueço-a na cinza ardente, e estimulo a coragem dos meus companheiros. Juntamos as nossas forças, e no olho cerrado do ciclope enterramos o madeiro ponteagudo. Faço-o andar à roda como penetrante verruga. E, antes mesmo que o ciclope acordasse , já o tínhamos cegado.
Mas desperta por fim, e começa a bramir raivosamente, torcendo-se de dores. Afastámo-nos para longe, não fosse ele deitar-nos a mão! O mostro gritava por socorro, chamava aflitivamente os outros ciclopes. Vêm todos, acodem todos, e do lado de fora do antro, fechado ainda, interrogam-no:
- Que te aconteceu, Polifemo? Porque nos acordas no meio da noite? Quem te fez mal? Alguém atenta contra a tua vida?
- O terrível polifemo responde lá de dentro: _ Ai! Meus amigos, é NINGUÉM que me mata, é NINGUÉM!
- Então, dizem ele, se ninguém te faz mal, de que te queixas? O teu mal não tem remédio, e não lhe sabemos a causa. Tem paciência e sofre com resignação…
E voltaram para as suas cavernas, enquanto eu ria ao pensar na bela ideia que tivera, baptizando-me com o nome de NINGUÉM…”
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retirado do google |
“- Ciclope, perguntas-me o meu nome. É muito conhecido. Mas já que o ignoras, vou-to ensinar, e terás depois de me entregar o presente prometido. Chamo-me NINGUÉM; meu pai e minha mãe chamavam-me assim, e todos os meus companheiros me chamam NINGUÉM.
_ Ah! Sim, respondeu o ciclope. Pois já que te chamas NINGUÉM, NINGUÉM será o último de vocês todos que eu devorarei. É esse o meu presente!
Ao acabar de dizer estas palavras, tombou para o lado, a cabeça dobrada sobre o ombro, ébrio de todo. Um sono profundo e toma, e ressona estrondosamente. Não perco um minuto – vou buscar a estaca preparada, aqueço-a na cinza ardente, e estimulo a coragem dos meus companheiros. Juntamos as nossas forças, e no olho cerrado do ciclope enterramos o madeiro ponteagudo. Faço-o andar à roda como penetrante verruga. E, antes mesmo que o ciclope acordasse , já o tínhamos cegado.
Mas desperta por fim, e começa a bramir raivosamente, torcendo-se de dores. Afastámo-nos para longe, não fosse ele deitar-nos a mão! O mostro gritava por socorro, chamava aflitivamente os outros ciclopes. Vêm todos, acodem todos, e do lado de fora do antro, fechado ainda, interrogam-no:
- Que te aconteceu, Polifemo? Porque nos acordas no meio da noite? Quem te fez mal? Alguém atenta contra a tua vida?
- O terrível polifemo responde lá de dentro: _ Ai! Meus amigos, é NINGUÉM que me mata, é NINGUÉM!
- Então, dizem ele, se ninguém te faz mal, de que te queixas? O teu mal não tem remédio, e não lhe sabemos a causa. Tem paciência e sofre com resignação…
E voltaram para as suas cavernas, enquanto eu ria ao pensar na bela ideia que tivera, baptizando-me com o nome de NINGUÉM…”
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In A Odisseia de Homero de João de Barros
6 comentários:
Não conhecia este texto.
vejo o porquê de se dizer que já está tudo escrito!!!
Pois é...pois é...
Mas a diferença é que cá no nosso burgo, nós coitaditos, continuamos inofensivos ciclopes( zés- ninguéns) seguindo a nossa odisseia.
Enquanto que o pérfido e escapista NINGUÉM, nos come os olhos da cara e ainda se ri por cima.
Tá bonito...
Bjo
Janita
Olá vim lhe dar as boas vindas la no Bloguito!
Sijoga pq o blog é nosso!
bjs
Pois conheço mt boa gente que adora não ser responsável por nada, é melhor pertencer aquela terra de ninguém. Bjs
A subjectividade das coisas. Aqui, um nome que é equivalente a nada, teve valor suficiente para salvar uma ou mais vidas.
Por cá o ninguém deu cabo disto ;)
Texto muito bem aplicado ;)
Mas hoje vim aqui com outro propósito, oferecer-lhe um bocadinho do meu bolo de aniversário e uma taça de champanhe ;)
Obrigada pelas suas palavras!
Beijinhos
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