30 dezembro 2010

votos para o ano novo

29 dezembro 2010

Conversas entre o ano 2011 e o ano 2010

“ O Ano Velho (1871, 2010) recolhia-se: estivera trezentos e sessenta e cinco dias em remontes das botas; tinha os dedos queimados do cigarro e trocava o B pelo V; levava o estômago estragado da mesa do hotel; ia ressequido da falta de banhos; palitava os dentes com as unhas; sabia ajudar à missa; assoava-se a um lenço vermelho; perguntava a todo o propósito que há de novo? E era reformista alusitanado . – O Ano Novo (1872, 2011) vinha da frescura do céu.


Então cumprimentaram-se. (…) (começam a conversar)

( Ano Novo) _ Pertencer a um partido, meu amigo, vem a ser?...

(Ano Velho )_ É meter-se a gente num ónibus - que leva aos empregos - e a que puxa o chefe de partido, sempre com o freio nos dentes!

_ Ah! Meu amigo pelo apetite da gente, esse país é – férreo. E a questão de fazenda, dizia…

_ É uma espécie de nó que todos, um por um, são chamados a desatar – e que cada um aperta mais.

(…)

_ Ainda bem, ainda bem! Fale-me então do povo.

_ Oh o povo! É um boi que em Portugal se julga um animal muito livre porque lhe não montam na anca, - e o desgraçado não se lembra da canga!

(..)

_ E a diplomacia desse país?...

_ Cada governo, meu amigo, costuma mandar como embaixadores para fora aqueles que ele não quer ver dentro como chefes de oposição parecendo-se assim com aqueles criados que os companheiros mandam espreitar para a sala, - para comerem mais à vontade na cozinha.

(…)

_ Oh! Bom Deus, voltemos às generalidades: o país é rico?

_ Portugal, meu caro, é um país que todos dizem que é rico, povoado por gente que todos sabem que é pobre.

- Mas a agricultura, Senhor?

_ A agricultura aqui é a arte de assistir impassível – ao trabalho da natureza.

(…)

_ Em resumo _ qual é a sua opinião sobre o país?

_ É um país geralmente corrompido – em que aqueles mesmos que sofrem não se indignam por sofrer." (…)



In As Farpas de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, 1872

21 dezembro 2010

Ninho humano

Ninho humano




A que horas acordam

Que vida desumana

Em que ninhos vivem

Que tenras asas preparam

Em mecânicos ponteiros

- Deixa lá, são humanos



A que horas deitam-se

Em cubos se amontoam

Caixas emparedadas

Que luzes reflectem as grades

- Deixa lá, são humanos



A que horas acordam

Presos no ninho que não são deles

Com a terra alugada ao estado

A casa alugada aos bancos

 
- Deixa lá, são humanos

retirado da net




ZJ






13 dezembro 2010

Manjedoura Memória: TV



Eis o povo alimentado a palha, em fardos político-económicos postos em manjedouras televisivas.
Apelos teatralizados e oportunista do povo pobre, tornando pobre o povo pobre.

03 dezembro 2010

Adaptação moderna dos Lusíadas

I


As sarnas de barões todos inchados

Eleitos pela plebe lusitana

Que agora se encontram instalados

Fazendo aquilo que lhes dá na gana

Nos seus poleiros bem engalanados,

Mais do que permite a decência humana,

Olvidam-se de quanto proclamaram

Em campanhas com que nos enganaram!



II



E também as jogadas habilidosas

Daqueles tais que foram dilatando

Contas bancárias ignominiosas,

Do Minho ao Algarve tudo devastando,

Guardam para si as coisas valiosas…

Desprezam quem de fome vai chorando!

Gritando levarei, se tiver arte,

Esta falta de vergonha a toda a parte!



III



Falem da crise grega todo o ano!

E das aflições que à Europa deram;

Calem-se aqueles que por engano…

Votaram no refugo que elegeram!

Que a mim mete-me nojo o peito ufano

De crápulas que só enriqueceram

Com a prática de trafulhice tanta

Que andarem à solta só me espanta.



IV



E vós, ninfas do Coura onde eu nado

Por quem sempre senti carinho ardente

Não me deixeis agora abandonado

E concedei engenho à minha mente,

De modo a que possa, convosco ao lado,

Desmascarar de forma eloquente

Aqueles que já têm no seu gene

A besta horrível do poder perene!

 
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