27 dezembro 2006

natal


Natal

Ia eu a passear pelo mar adentro, quando avistei o terrível tubarão branco e pensei cá para mim: “ Olha o tubarão ali a caçar. Vou apanhar-lhe um grande susto. Aproximei-me dele, sem fazer barulho e ao pé de uma barbatana gritei-lhe.
- Com que então, a caçar por aqui. Quantos peixes já apanhastes hoje, muitos , não!
O temível tubarão ficou espantado para mim de boca escancarada e eu continuei a falhar-lhe em voz alta.
- Então, ficaste assustado comigo. Não gostas que te chateiem? Pois, não! Se calhar atrapalhei-te na tua caçada, não! Ora, tens a mania de esperto, mas desta vez apanhei-te. Comigo não brincas . Põe-te já a andar daqui para fora, antes que eu te coma vivo, tal como fiz a teu primo, ou melhor, vou pegar em ti e colocar-te do lado do avesso, para seres gozado pelos outros peixes.
O tubarão assustado com as minhas severas palavras desapareceu-me na imensidão do mar, até parecia um cão quando coloca a cauda entre a pernas e foge com muito medo.
- Bem, este já apanhou a sua lição. Penso que o tubarão branco deixará de assustar os outros peixes. Agora, vou até a savana chatear os leões, que andam a perseguir animais indefesos.

20 dezembro 2006

um caso


Um caso

Após estacionar, entrei na famosa tasca da Serra de Água, onde podemos beber a famosa e a melhor poncha da Madeira. Entrei e deparei-me com as paredes cheias de publicidade gratuita: muitos e muitos cartõezinhos, dos quais não se destaca nenhum. A tasca mantinha a características antigas e é cobiçada pelos tempos modernos. Esta estava repleta de gente de vários tipos: estrangeiros, jovens, mulheres , gente do campo e gente da cidade.. As empregadas atarefadas faziam a bebida dos deuses em frente dos clientes. Sim, porque a poncha fresca é feita na hora e à frente de quem a vai beber. Para acompanhar a bebida havia amendoins, dos quais as cascas cobriam o chão. Patinhar as imensas cascas dos amendoins ao beber a poncha é uma das sensações que qualquer ser humano deveria de experimentar antes de morrer; tal como o carregar Ctrl, Alt, Del no teclado do computador.
Depois de entrar apareceu na porta o meu copiloto e, num gesto de familiaridade e compatriotismo, exclamou para todos em alta vós:
- Boa Tarde.
- Boa Tarde - Respondi eu e só eu.

18 dezembro 2006

13 dezembro 2006

Bananeira


Sorte desgraçada

A Tia Madalena passou, um dia, na rua e viu uma criança num canto deitada, com fome e pensou logo em várias actividades para ajudar a criança: “vou fazer uma acção de sensibilização sobre este problema da pobreza infantil, com um jantar para angariar fundos; vou convidar este e aquele para uma palestra sobre este assunto, vou promover nos órgãos de comunicação social, de preferência na televisão, debates sobre a marginalidade infantil, o abandono escolar e outros.”
O mundo está cada vez mais desigual – diz ela para as suas amigas, que estavam a tomar o seu pequeno almoço, na esplanada. Conversavam sobre a sua associação de solidariedade social e a próxima acção a desenvolver. Sobre a mesa estavam uns bolinhos tostado, ainda quentinhos, e cada qual tomava o seu copo de leite com chocolate . A pastelaria Mendes que servia à esplanada fazia muitos géneros alimentares baratos. Uma das quais era as Broas Mendes , que o cachorrinho da tia gostava muito. Calções amarrotados e com botas transparente o Miguel senta-se e com os joelhos encostados à barriga assume a forma de uma pêra, observava um panfleto de uma superfície comercial , com promoções. Fotos coloridas de frutas cristalinas e acabadas de lavar, trazia o papel amarrotado. E assim ficou o Miguel toda a tarde , a passar fome ao lado das “titias” solidárias.

11 dezembro 2006

barba


A pensante barba dizia cá para mim: -se ao menos deixasses esse maldito cigarro que concorre comigo na ajuda às tuas ideias, seria para mim um alívio. Pois largar o pensativo cigarro era uma excelente maneira de poupar dinheiro e por valorização fazer-me-ia bem à saúde. Vou perguntar ao portátil através da net como seria eu sem fumar. Fumar não será um escape, um prazer.
Olhava para as tábuas do sótão e não encontrava mais espaços de criação. Os livros nas estantes adormecidos descansavam embalados pelo assobiar do vendo. A luz tilintava de fraqueza, quase se acabava.
Levantei-me e em cinco passos entrei na casa de banho e bebi a fria água com as próprias mãos. Sentei-me e, desviando o olhar da Internet, li algumas notícias dos jornais. Porém, a noite não estava para muitas inspirações. E assim adormeci.

10 dezembro 2006

01 dezembro 2006

Deus tem como única obrigação existir.


A imagem simples da existência pós-morte de um vizinho cá da redondeza é sem dúvida interessante e ao mesmo tempo bonita.. Pois, segundo o velhinho, depois da nossa morte, viajamos para cima das nuvens e a nossa estadia será regrada com doces. Por isso fulano tal que morreu está bem lá em cima a comer doces. Pensando bem este pensamento não foge da ideia que a religião tem para depois da morte.
Convém retratar que a personagem acima referida é analfabeta e apresenta alguma dificuldades cognitivas, podemos dizer que é um castiço, é genuíno .
Destaca-se a ideia da paz e do conforto das nuvens brancas e da doçura dos doces. Isto não será o céu dos católicos? O paraíso dos muçulmanos?
Se um individuo com estas diferencias mentais tem este conceito do infinito, se as religiões apresentam um espaço para deslocarmos depois da morte é porque existe algo para alem da vida . E tudo nos leva a crer que existe Deus. Pois, existir por existir reduz-se a Descartes. Terá mais lógica existir para viver eternamente , nem que seja para ficar nuvens a comer doces.