19 maio 2010

a theoria definitiva da existencia de Eça de Queirós

      Independentemente do atraso em relação à Europa ou o facto de estarmos na cauda da Europa , embora o desenvolvimento técnico do país , a sociedade portuguesa ainda continua no século XIX. Por fora desenvolvemos muito, até mais do que as nossas possibilidades, mas por dentro ainda não regeneramos.
     Nas últimas páginas do livro, Os Maias, Eça de Queirós descreve duas amigos, Egas e Carlos, a correrem para apanharem o “americano”, enquanto concordavam que não valia a pena correr para nada. Esta contradição ou ironia, em que enquanto corremos diz-se que não vale a pena correr para nada, passa-se na actualidade cheia de desilusão, parece que não serve de nada criticar, não vale muito tentar melhorar, fazer um esforço para construir uma sociedade melhor.
      Quantas vezes verifica-se que as criticas e ideias diferentes caem em saco fundo, os erros apontados não têm consequências, fica todo na mesma. Entrou-se numa pasmaceira ideológica da paz social, onde todos apontam defeitos, erros e não se corrige nada. Não vale a pena correr para nada. Para que apontar os erros na educação se ninguém os corrige, apontar para lacunas no futebol e fica todo na mesma, e na política que serve apontar que o rei vai nu, se ele não se emenda e outros e demais assuntos nacionais, regionais e mesmo locais que não vale a pena correr.

(…)



“- Que raiva ter esquecido o paiosinho! Emfim, acabou-se. Ao menos assentamos a theoria


definitiva da existencia. Com effeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ancia para


coisa alguma...


Ega, ao lado, ajuntava, offegante, atirando as pernas magras:


- Nem para o amor, nem para a gloria, nem para o dinheiro, nem para o poder...


A lanterna vermelha do «americano», ao longe, no escuro, parára. E foi em Carlos e em


João da Ega uma esperança, outro esforço:


- Ainda o apanhamos!


- Ainda o apanhamos!


De novo a lanterna deslisou, e fugiu. Então, para apanhar o «americano», os dois amigos


romperam a correr desesperadamente pela rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira


claridade do luar que subia."

 In Os Maias de Eça de Queirós

4 comentários:

Fernando Freitas disse...

Por acaso, hoje estou nessa onda de sentir que não há nada a fazer.
Obrigado pela disintção com que honrou a "A Beiça".

Anónimo disse...

Agora inverteu-se...
É assim:
Quem é honesto, é gozado!
Quem é bom, tem do pior!
Quem é trabalhador, é perseguido!
Quem nunca teve nada, agora tem!
Como é?
Não sei...
Eu vou continuar igual a mim mesma, honesta, trabalhadora, humilde e fiel a mim!
O Eça foi no seu tempo mais avançado do que muitas mentes do presente.
MFCC

Catarina Reis disse...

Quero continuar a acreditar que ainda é possível.
Bjs Catarina

Unknown disse...

Eu acredito que vale a pena e faço a minha parte, sempre. kiss