Num certo dia solarengo , reunião todos os portugueses em plena savana alentejana, numa assembleia magna para discutirem, analisarem e reflectirem sobre o destino a dar a um simples caroço de pêra abacate. Pela experiencia e pela sabedoria do povo, todos sabiam que a única solução para a produtiva semente era plantá-la. No entanto, a importância do assunto trazia às mentes cartesianas dos indivíduos dúvidas que teriam de ser resolvidas democraticamente para que as decisões sejam as melhores para todos.
Cumprindo-se o protocolo, tomou a palavra o ambientalista que num discurso naturalista questionou os presentes sobre os projectos de impactos ambientais e duvidou da origem da natural semente.
Interrompeu o engenheiro para afirmar que deveria-se primeiro criar uma protecção macadamizada e depois vedada, de modo a proteger a esperançosa semente, calculando-se para esse trabalho a zona de crescimento da futura árvore. O solo, acima de todo, teria de ser analisado numa recolha de dados que ajudariam a definir o local de plantação mais indicado
Os custos da operação deveriam de ser previamente calculados pelo equipa do gabinete de contabilidade e gestão, para que o admirado caroço, não traga prejuízo para o erário público.
O Jornalista propôs um programa de televisão de índole realista ou mesmo um debate, podendo-se ainda utilizar o baralhado caroço para um prémio. Concluiu que estas decisões importantes não deviam de passar sem um debate de esclarecimento da opinião pública.
Ajeitada a gravata, falou o digníssimo representante do povo, que procurou descrever a história da desanimada pêra abacate, tentando procurar os culpados pelo desaparecimento da parte comestível do referido fruto. Pois, segundo a sua opinião, a semente era uma consequência do estado pobre da semente devia-se à perca da substância.
O Manuel, fazendo-se notar pela sua roupa extravagante, apontou para paciente semente e falou das suas experiências de férias no Algarve no ano passado. O Algarve mais que o Norte apresenta melhores condições para passar férias, mas que no entanto gostava de Futebol Clube do Porto.
Maria em gritos disse que…
Enquanto o sol escaldava as pensantes cabeças, pois até Chomsky ficaria intimidado com a persuasão e magnificência dos discursos e mesmo Trotsky atiraria água para este aceso debate. Nem mesmo Virgílio Ferreira, que por estas terras andou, em letras pintava esta assembleia surrealista.
A infeliz semente decidiu por fim fugir para Espanha, abandonando o indeciso povo numa nuvem de pó.
8 comentários:
Eheheh, muito fixe e muito real. Tanto se pensa que se deita tudo a perder. Tadinha da semente, ou se calhar não, possivelmente neste momento estará a viver uma excelente vida em Espanha.
Bom fim de semana
Gostei da savana alentejana. O texto está óptimo e espelha bem a realidade dos nossos dias. Fez-me lembrar um amigo que dizia, com piada, «para quê simplificar se podemos complicar».
Muito bom! É o futuro promissor de todas as sementes, fugir para Espanha. Kiss
A simplicidade das palavras na complexidade do momento. Questionar para aprender, pena a semente ter fugido para Espanha.
Beijos
Parabéns! Fez uma comparação brilhante e nada surrealista ;-), com o actual estado do país.
Beijinhos e boa semana
Se olhar-mos à história deste idoso país, concluímos que sempre pecou por perder as melhores oportunidades. Vem de longe... será que algum dia muda?
Já não deverei estar cá para assistir!
Abraços.
Belo texto. Mais uma oportunidade perdida... Quando alguns perdem, outros ganham. Foi a “karma” da semente ir para outras paragens talvez mais alegres... Por esta altura já arranjou um “guapo” que lhe sussurra palavras lindas de embalar... : )
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