12 novembro 2010

Daqui a 45 anos

No ano 2055


         De passo apressado e de ar desconfiado, Fernando leva a sua caixa de ração olhando para a esquerda e para a direita com medo de ser assaltado. Na rua os carros parados de portas entreabertas abafados pelos folhas do tempo. Do seu lado esquerdo as lojas de vidros partidos, exponham a humidade dos seus televisores, restos de uma civilização gananciosa. Do lado direito da sua cara chega-lhe um ar gelado nascido dos mármores de um banco fastidioso e abandonado. Em suspiros de nostalgia e de sobrevivência, pontapeia um maço de notas que se espalha em terra e ervas daninhas. Levanta a cabeça e apressa o passo com o objectivo de chegar à sua família antes das sirenes do recolher obrigatório.

6 comentários:

Fernando Freitas disse...

Confio em que, mais ano menos ano, a humanidade caminhará por outros caminhos. Não sei como isso acontecerá. Se eu estiver errado, acredito no quadro que traça.

Fê blue bird disse...

Um cenário absolutamente plausível.
Partilho infelizmente deste pessimismo.

beijinhos

Janita disse...

O futuro que profetizas pode não ser muito diferente desta tua narrativa. Não sei...
Oa alimentos racionados, o vil metal, sem préstimo nenhum...a ponto de se pontapear um maço de notas...
Esperemos que não! Tanto mais que 2055, não está muito longe. Eu já cá não estarei para ver, embora isso não me sirva de consolo...
Beijo
Janita

Catarina Reis disse...

Quadro negro numa visão futurista, esperemos que a realidade seja outra.

Rosa dos Ventos disse...

Há mesmo que travar antes que se atinja uma situação catastrófica!

Catarina disse...

Esperemos que essa “situação” nunca chegue a ver a luz da realidade.