27 novembro 2010

Teoria do Caroço

       Num certo dia solarengo , reunião todos os portugueses em plena savana alentejana, numa assembleia magna para discutirem, analisarem e reflectirem sobre o destino a dar a um simples caroço de pêra abacate. Pela experiencia e pela sabedoria do povo, todos sabiam que a única solução para a produtiva semente era plantá-la. No entanto, a importância do assunto trazia às mentes cartesianas dos indivíduos dúvidas que teriam de ser resolvidas democraticamente para que as decisões sejam as melhores para todos.
      Cumprindo-se o protocolo, tomou a palavra o ambientalista que num discurso naturalista questionou os presentes sobre os projectos de impactos ambientais e duvidou da origem da natural semente.
      Interrompeu o engenheiro para afirmar que deveria-se primeiro criar uma protecção macadamizada e depois vedada, de modo a proteger a esperançosa semente, calculando-se para esse trabalho a zona de crescimento da futura árvore. O solo, acima de todo, teria de ser analisado numa recolha de dados que ajudariam a definir o local de plantação mais indicado
      Os custos da operação deveriam de ser previamente calculados pelo equipa do gabinete de contabilidade e gestão, para que o admirado caroço, não traga prejuízo para o erário público.
      O Jornalista propôs um programa de televisão de índole realista ou mesmo um debate, podendo-se ainda utilizar o baralhado caroço para um prémio. Concluiu que estas decisões importantes não deviam de passar sem um debate de esclarecimento da opinião pública.
      Ajeitada a gravata, falou o digníssimo representante do povo, que procurou descrever a história da desanimada pêra abacate, tentando procurar os culpados pelo desaparecimento da parte comestível do referido fruto. Pois, segundo a sua opinião, a semente era uma consequência do estado pobre da semente devia-se à perca da substância.
     O Manuel, fazendo-se notar pela sua roupa extravagante, apontou para paciente semente e falou das suas experiências de férias no Algarve no ano passado. O Algarve mais que o Norte apresenta melhores condições para passar férias, mas que no entanto gostava de Futebol Clube do Porto.
      Maria em gritos disse que…
      Enquanto o sol escaldava as pensantes cabeças, pois até Chomsky ficaria intimidado com a persuasão e magnificência dos discursos e mesmo Trotsky atiraria água para este aceso debate. Nem mesmo Virgílio Ferreira, que por estas terras andou, em letras pintava esta assembleia surrealista.
     A infeliz semente decidiu por fim fugir para Espanha, abandonando o indeciso povo numa nuvem de pó.

23 novembro 2010

Certificado de Incompetência


Para todos os políticos um Certificado de Incompetência.

12 novembro 2010

Daqui a 45 anos

No ano 2055


         De passo apressado e de ar desconfiado, Fernando leva a sua caixa de ração olhando para a esquerda e para a direita com medo de ser assaltado. Na rua os carros parados de portas entreabertas abafados pelos folhas do tempo. Do seu lado esquerdo as lojas de vidros partidos, exponham a humidade dos seus televisores, restos de uma civilização gananciosa. Do lado direito da sua cara chega-lhe um ar gelado nascido dos mármores de um banco fastidioso e abandonado. Em suspiros de nostalgia e de sobrevivência, pontapeia um maço de notas que se espalha em terra e ervas daninhas. Levanta a cabeça e apressa o passo com o objectivo de chegar à sua família antes das sirenes do recolher obrigatório.

11 novembro 2010

Há 139 anos

"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As falências sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia? explora. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. A intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada."

in As Farpas de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, 1871

10 novembro 2010

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Depois de abandonarmos um blog, ele se torna lixo digital?